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CEB quer usar um microrganismo para tornar produção de aromas mais sustentável

Poderá um único fungo filamentoso transformar as indústrias alimentar e cosmética, tornando-as mais amigas do ambiente e economicamente mais competitivas? Um trabalho levado a cabo por cientistas do Centro de Engenharia Biológica (CEB) da Universidade do Minho tem vindo a analisar a utilização de um microrganismo para produzir aromas naturais a partir de açúcares simples, obtidos de resíduos da indústria alimentar, abrindo portas a um futuro mais verde. Os principais resultados do Projeto de investigação por detrás desta inovação vão ser apresentados no 1º Simpósio sobre Bioprodução de Fragâncias e Sabores Naturais que aconteceu no passado dia 13 setembro, na Universidade do Minho.

Atualmente, a produção de aromas naturais (lactonas) é alcançada a partir de síntese química de matérias-primas poluentes provenientes dos combustíveis fósseis, dando também origem a misturas com baixo nível de pureza. O fungo utilizado neste trabalho –  Ashbya gossypii (ou Eremothecium gossypii) – já é usado industrialmente para fabricar vitamina B2 (riboflavina) – o que representa um caso de sucesso de substituição de processos químicos por produção microbiana. Agora, este mesmo microrganismo demonstrou ser capaz de produzir lactonas diretamente a partir de açúcares simples, como a glucose ou a sacarose.

De realçar ainda que o Projeto ESSEntial se distingue também por abranger a otimização de todas as fases do processo de produção, desde melhorar o microrganismo responsável pela síntese dos aromas através de engenharia genética, até à identificação e otimização das condições da produção sustentável dos compostos. Até agora, foi possível aumentar em cerca de 5 vezes a produção de lactonas em comparação com a maior produção reportada antes do início do Projeto.

Mas não é só. Está a ser ainda analisado o aumento da escala de produção tendo em vista otimizar a implementação industrial do processo. E continuam a ser testadas diferentes estratégias genéticas que possam melhorar a produção e estão a ser usados reatores de maior escala, o que tornará possível afinar tanto a performance do microrganismo, como as condições de fermentação. Está ainda prevista a realização de estudos tecno-económico e ambiental do processo desenvolvido.

Em suma, o trabalho produzido pelos investigadores do CEB está alinhado com os objetivos da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), propondo uma mudança paradigmática ao realocar os processos químicos em bioprocessos, acelerando assim a transição de economias lineares para circulares. Não só mostra ser possível aumentar a produção de compostos fundamentais – lactonas – para duas indústrias com grande impacto para o dia a dia dos cidadãos, como ainda se dá nova vida a excedentes industriais.

Mais info em https://www.ceb.uminho.pt/Projects/Details/6230