Ciclo de entrevistas aos membros do novo conselho consultivo da Escola de Engenharia. Nesta edição entrevistamos o Eng. António Rodrigues, CEO do Grupo Casais.
O Conselho Consultivo da Escola de Engenharia da Universidade do Minho (EEUM) é o órgão de aconselhamento dos órgãos de governo da Escola para assuntos de definição estratégica. Composto por nove personalidades externas à instituição, de reconhecido mérito nos domínios da sua atividade, estes têm como missão pronunciar-se sobre assuntos de caráter pedagógico, científico e de interação com a sociedade.
Como recebeu/percecionou o convite para integrar o Conselho Consultivo da EEUM?
É com satisfação e orgulho que integro este órgão de aconselhamento. Poder contribuir para o desenvolvimento da Escola de Engenharia, instituição onde realizei parte da minha formação, é uma honra que encaro com grande sentido de responsabilidade.
Em termos gerais, quais as principais mais-valias que considera que um órgão de aconselhamento como este pode trazer para a estratégia da EEUM?
O Conselho Consultivo da EEUM é uma excelente ferramenta de interface da academia com o mercado. o facto de ser composto por perfis de várias áreas do sector empresarial, permitiu criar uma excelente oportunidade para extrair opiniões e contributos úteis ao desenvolvimento da escola. As empresas e as universidades são dois universos distintos, mas complementares. O mercado beneficia com o conhecimento do trabalho académico e a universidade ganha com o conhecimento sobre os desafios das empresas.
Qual a sua perceção da evolução da EEUM e do seu contributo para o desenvolvimento da região do Minho nos últimos anos?
Regiões, universidades e empresas apresentam uma realidade interligada e entrelaçada, isto é, se as empresas prosperam, as universidades prosperam. A EEUM, em particular, tem demonstrado grande competência no desenvolvimento da região nos últimos anos, destacando-se as iniciativas de colaboração com o tecido empresarial da região e os projetos de inovação e investigação. Assim, uma vez que a universidade se apresenta como um polo catalisador de desenvolvimento, a região prospera. As Unidades de Interface (TecMinho, PIEP, CVR, IBS, CCG, etc), são um exemplo da dinâmica da UM e que mostram que esta escola se tem conseguido exceder em comparação com as demais universidades nacionais.
De que forma pode a EEUM desempenhar um papel mais ativo junto das empresas no sentido de as apoiar em termos de formação contínua de recursos humanos, quer em termos mais operacionais, como a resolução de problemas nas áreas produtivas?
Hoje as Universidades assumem um papel ainda mais relevante – reter, selecionar, desenvolver e saber ministrar conhecimento – é uma condição para a sobrevivência e desenvolvimento da sociedade. Os docentes dominam o conhecimento, mas não necessariamente o contexto especifico dos negócios. Desta forma, para a universidade se exceder e desempenhar um papel mais ativo junto das empresas é necessária uma maior interação com o contexto (mercado). Todos os anos recebemos no nosso “Programa Arte e Engenho” dez novos engenheiros e eu próprio realizo as entrevistas e faço aos candidatos sempre esta pergunta: “O que estavam à espera que a Universidade vos desse e não receberam?”. A resposta mais frequente é:
“Estudamos as mesmas sebentas de há vinte anos” e “Falta-nos a parte prática, recebemos apenas componentes teóricas de conhecimento”. É sabido que o conhecimento não se altera e, em especial, na matemática e na física, o que era verdade há 20 anos vai continuar verdade daqui a mais 20 anos. Mas, existe uma grande oportunidade e ela reside na aplicação do conhecimento ao mercado. É difícil, quer para a Academia, quer para o Mercado, conseguir articular como o conhecimento pode ter uma aplicação prática, mas é por essa mesma dificuldade que se torna necessário aumentar a sobreposição de ambas. Neste sentido, o estágio é fundamental e seria até interessante a sua divisão entre os anos de mestrado. Para além disso, a academia pode promover o acesso a formação complementar (extra curriculum) com parceiros tecnológicos que permita aos alunos aceder ao conhecimento, prática e uso das ferramentas que o mercado está a utilizar.
O Grupo Casais atribui um prémio ao melhor aluno de Mestrado Integrado em Engenharia Civil na EEUM, promovendo assim a formação nesta área, que tem vindo a tornar-se menos “apelativa” para as gerações mais recentes. Que outras iniciativas o Grupo Casais tem desenvolvido neste mesmo sentido?
Para além de estarmos completamente focados no desenvolvimento de infraestruturas de qualidade, de confiança, sustentáveis e resilientes, temos vindo a promover a industrialização inclusiva e sustentável. Enquanto empresa de engenharia civil e construção, estamos já na linha da frente no que diz respeito à utilização de técnicas de construção que promovam a durabilidade dos edifícios e a resiliência dos materiais. A industrialização é a nossa ferramenta para aumentar a eficiência e acreditamos que será essencial para a transição da construção. A face visível deste processo é a BluFab que dá corpo à nossa unidade de construção off-site e que está a abastecer as obras com elementos fabricados e montados em fábrica.
Outra iniciativa desenvolvida no sentido de atrair novos talentos é a Academia Casais. Com ela, pretendemos, acima de tudo, fazer a ligação entre o universo interno do grupo, e respetivas necessidades internas, com os parceiros de formação externos. Não nos queremos substituir às universidades, nem às escolas. Queremos que, através da nossa Academia, as pessoas aprendam as “skills” de que precisam para entrar na nossa atividade.
No passado dia 06 de outubro, a Escola de Engenharia apresentou oficialmente a sua assinatura de marca “Tomorrow Needs Engineering”. Trata-se de uma iniciativa da atual presidência com o intuito de afirmar o posicionamento da EEUM como instituição de ensino e investigação moderna com capacidade e provas dadas para enfrentar os desafios de “amanhã”, e uma comunidade convicta de que a Engenharia que cria diariamente fará a diferença no Futuro. Entende que foi oportuna esta iniciativa? A assinatura de marca em inglês, na sua opinião, reflete o conceito que se pretende associar à marca?
A iniciativa “Tomorrow Needs Engineering”, no formato digital, não só foi oportuna como também adequada às circunstâncias atuais. A assinatura da marca em inglês reflete uma comunicação global, destinada à participação internacional. Esta atitude apresenta-se completamente alinhada à visão de futuro da EEUM. O ensino já era uma atividade global e a Covid só veio acelerar esse processo. A quantidade de conteúdos e temas que passaram para o formato online está a aumentar a um ritmo exponencial. A língua inglesa é a única língua verdadeiramente internacional, por isso é uma oportunidade para a EEUM se afirmar como uma oferta válida para o mundo. Se ela não o fizer, outros o farão e, como em muitas outras coisas, a escala significa também competitividade, por isso é imprescindível que a EEUM consiga crescer na área que se afirmou por natureza. Considero que os cursos de engenharia na Europa estão bastante à frente da média global e Portugal é, nesse sentido, um dos líderes da oferta de engenharia. Assim, é tanto um desígnio para a EEUM, como para todas as escolas de engenharia de Portugal, que só tem a ganhar se trabalharem de forma coordenada e articulada. A concorrência não vem hoje de dentro do nosso país, mas de fora, e para um país forte e capaz, só com uma Academia forte. Desta forma, tenho a certeza que o exemplo da EEUM nesta ligação umbilical com o mercado pode colocar a EEUM num papel para liderar este movimento nacional para tornar a engenharia portuguesa uma referência global.