Como era a igreja do Convento do Carmo, em Lisboa, antes do terramoto de 1755? Uma equipa europeia liderada pela Escola de Engenharia Universidade do Minho apresentou, no passado dia 18, naquele local, uma aplicação móvel e um livro que permitem ver o invisível. Por exemplo, “reconstroem” o templo, mostram o interior das colunas e simulam efeitos de um eventual sismo. O objetivo é servir o público, apoiar técnicos nesta área e replicar a inovação em monumentos pelo mundo.
O projeto científico Heritage Within, juntou nos últimos dois anos a Escola de Engenharia da UMinho, o Conselho Superior de Investigações Científicas de Espanha (CSIC), a Universidade Politécnica de Madrid e o Conselho Nacional de Investigação de Itália, sendo financiado pelo Programa Europa Criativa, da UE.
“O cidadão vai ver além da superfície, sabendo como cada coluna foi construída e qual a sua composição, pois poderá notar partes deterioradas, fendas a tratar, a distribuição da carga ou o tipo de material do núcleo das colunas”, diz o investigador coordenador, Javier Ortega. A app, designada Carmo integrated analysis, permite ainda ver no local e remotamente uma hipótese de como era a igreja original. Já o livro Heritage Within tem 120 páginas e, em breve, fica também ao dispor em pdf.
Para imóveis históricos no mundo
“As ruínas do Convento do Carmo são o estudo-piloto do projeto, mas a ideia é que o formato seja aplicável para ruínas e edifícios históricos de todo o mundo. Além disso, a plataforma desenvolvida para o Museu Arqueológico do Carmo é uma plataforma aberta. Novo conteúdo poderá ser adicionado no futuro e eventualmente poderá também server como uma ferramenta de gestão do edifício, tornando-se um gêmeo digital do monumento”, revela Javier Ortega. “Temos uma abordagem inovadora que permite fruir e valorizar o património cultural construído, mostrando com as novas tecnologias o que está invisível e completando o monumento”, frisa Javier Ortega.
“O projeto permite também à sociedade compreender melhor a cultura, o trabalho dos peritos e a importância das tecnologias envolvidas”. O engenheiro civil e arquiteto acrescenta que este tipo de plataformas é útil para outros técnicos, pois pode ajudar na interpretação dos resultados e no diagnóstico.
Javier Ortega fez, na UMinho, o mestrado europeu em Análise Estrutural de Monumentos e Construções Históricas, o doutoramento e pós-doutoramento em Engenharia Civil e investigou no Instituto de Sustentabilidade e Inovação em Engenharia de Estruturas. Atualmente é Marie Sklodowska-Curie fellow no Instituto de Tecnologias Físicas e da Informação “Leonardo Torres Quevedo” do CSIC. Passou ainda pelas universidades Politécnica de Madrid (Espanha), de Estudos de Pádua (Itália) e de Arte de Glasgow (Reino Unido). Fez trabalhos em vários países, como na mesquita do Imã Khomeini (Irão), na ponte de Brooklyn (EUA) e na gare da Beira (Moçambique). Cofundou a associação europeia FENEC e é membro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, afeto à UNESCO.