É a única licenciatura do setor e as empresas querem colmatar a falta de profissionais para continuarem a ser uma referência mundial.
Os vinte estudantes que em setembro entrarem na licenciatura em Engenharia de Polímeros na Universidade do Minho vão ter as empresas do setor a financiar o valor da totalidade da propina, tutor na empresa e, a cada verão, estágios na indústria com despesas pagas. Este é o único curso da área no país e todos os alunos podem até concluí-lo, em Guimarães, sem custear a propina, a qual é financiada para todos os alunos do 1º ano, e a partir do 2º ano, os benefícios mantêm-se, basta passar a todas as disciplinas e ter média superior a 13 valores.
Esta iniciativa pioneira visa colmatar a clara falta de profissionais no setor dos plásticos e moldes, área em que Portugal dá cartas no mundo, com as suas 1150 empresas, 43 mil trabalhadores e oito mil milhões de euros de volume de negócios, cerca de 4% do PIB nacional.
Iniciativa pioneira
“Na sociedade tem passado a ideia errada de que os materiais plásticos são nefastos, que vão acabar e que este ramo não tem futuro, mas a realidade é substancialmente distinta, pois a empregabilidade é de 100%, a nossa indústria é uma referência internacional e esta área é fulcral na mobilidade, informática, medicina, construção e em tantos outros campos”, resume o diretor do Departamento de Engenharia de Polímeros da UMinho, João Miguel Nóbrega. “Além disso, precisamos de novas mentes para trazer mais inovação, como desenvolver e processar novos polímeros, biopolímeros e polímeros biodegradáveis para responder aos desafios societais, de acordo com a Agenda 2030 das Nações Unidas”, nota.
O professor realça que a indústria está há anos com falta de jovens qualificados, pois as vagas do curso não são preenchidas e os pedidos de mão-de-obra qualificada cresceram substancialmente. A recente sugestão de envolver as empresas na formação superior “foi extremamente bem recebida” nas várias reuniões realizadas com os parceiros. Aderiram já mais de vinte empresas à iniciativa, como a Celoplás, Ernesto São Simão, Fehst, Plastipak, Silvex, Simoldes e Logoplaste. Todas as empresas nomearão um tutor que vai acompanhar a formação dos alunos ao longo do curso e irão recebê-los em estágios durante as férias de verão. Estes estágios durarão duas a quatro semanas e permitirão aprofundar o relacionamento entre os alunos e as empresas associadas.
Jovens mais qualificados
“No final do curso, teremos alunos com mais capacidade de evolução e motivação, o que os tornará melhores profissionais”, afirma João Miguel Nóbrega. “Na prática, o mercado prefere ter alguém que conhece, ajuda a formar e depois contrata, reduzindo o risco e aumentando a eficiência, em alternativa a contratar profissionais que não conhecem”, ilustra.
A Escola de Engenharia da UMinho forma profissionais em Engenharia de Polímeros desde 1978, tendo no país a única licenciatura e mestrado da área e o primeiro doutoramento da área. As suas atividades de investigação e desenvolvimento são reconhecidas internacionalmente e decorrem em estreita colaboração com o Instituto de Polímeros e Compósitos e com interfaces da UMinho como o Polo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP) e o Digital Transformation Colab (DTx), entre outros.
A indústria nacional dos plásticos e moldes nasceu há várias décadas na região da Marinha Grande, com a migração da indústria do vidro, que tem técnicas de produção idênticas, a qual na altura perdeu uma significativa quota de mercado. Atualmente, as empresas estão distribuídas por todo o país, trabalham com marcas prestigiadas e são reconhecidas pela excelência e competitividade. Os polímeros acompanham o dia a dia do cidadão comum quase sem este se aperceber, como o calçado, os óculos, o relógio, a carteira, os adereços, o telemóvel, a roupa ou a garrafa para água.
Declarações do Diretor de Departamento podem ser ouvidas aqui.