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Sabia que a comunidade online mais antiga do país nasceu na EEUM?

Embrião do entretenimento em redes do século XXI, a plataforma MOOsaico nasceu em 1994 por alunos da UMinho e chegou a ser única no mundo com suporte bilingue.

interacaoÉ o ambiente virtual mais antigo em Portugal e foi, durante algum tempo, o único no mundo com suporte multilingue. O MOOsaico nasceu por alunos da Universidade do Minho, em outubro de 1993 e oficialmente a 7 de janeiro de 1994, bem antes de haver mIRC, Blá, Orkut, Hi5, MSN, Facebook e o boom das SMS. Alojado nos servidores do Departamento de Informática (DI) da Escola de Engenharia da UMinho, em Braga, foi um embrião do entretenimento em redes do século XXI. Cada usuário tem alcunha e percorre uma espécie de mapa, podendo contactar gente de todo o mundo em fóruns, passatempos e até praticar línguas e programação. É difícil a esta plataforma cooperativa e educacional impor-se hoje a social media como o WhatsApp e o Zoom, mas curiosos, nostálgicos e independentes não a largam.

“Não é o primeiro chat nacional, houve uns talkers antes, mas é o primeiro MOO português, um ambiente virtual apenas em texto em que movimentas personagens em locais, ruas e objetos, procurando divertimento, descoberta e comunicação; e não é um jogo, pois não há pontuação, objetivos nem vencedor e vencido”, diz Paulo Ferreira ou Biafra, fundador do MOOsaico, nome que evoca o “mosaico de culturas”. Pouco depois, entrou para coadministrador Rui Mendes, também aluno de Matemática e Ciências da Computação e hoje professor no DI. “Fui seduzido porque podia-se programar numa linguagem orientada aos objetos e, assim, expandir o mundo com novas funcionalidades”, define. Os estudantes da UMinho ajudaram a criar em 1995 um dos primeiros MOO brasileiros, para a Escola do Futuro da Universidade de São Paulo, segundo o jornal O Globo.

Meses antes, o MOOsaico foi anunciado na conhecida rede Usenet, pelo aluno Pedro Melo, como “serviço internacional” online. O menu inicial do MOOsaico era em inglês e havia locais/objetos ainda por traduzir, dado serem criados por usuários fora de Portugal. O norte-americano Kent Pitman, pai da linguagem de programação Lisp, decidiu juntar-se a expandir o que havia em bilingue para sistema multilingue. Ou seja, cada participante passou a poder reconhecer, na sua língua, a informação enviada por outrem, inclusive mais tarde em japonês. Ou seja, uma “torre de Babel” para trocar experiências, ideias, hábitos e gostos. Em meados de 1995, o MOOsaico tinha 400 participantes estrangeiros, como dos EUA, Reino Unido, Noruega, Brasil, Israel, Suíça e França. O pico diário foi de 3000 utilizadores e houve mesmo 260 ligados em simultâneo.

Amizades na cyberwave

Era a época de ouro. Muitas comunidades surgiam no MOOSaico, sobretudo por universitários e de várias geografias. Por exemplo, desde a UMinho conversava-se, estudava-se e flertava-se com grupos de Richmond, na Califórnia (EUA), entrevistava-se em direto uma realizadora em Perth (Austrália) no âmbito da Semana de Cinema de Minorias em Braga, tirava-se dúvidas tecnológicas de Perl e promovia-se desafios de roleta e Scrabble. O MOOsaico foi evocado na imprensa e em vários livros, como Roteiro Prático da Internet (1995), de José Magalhães; Reconceptualizing Teaching Practice (1998), de Mary Lynn Hamilton; e Sprachprodukte und Sprachprozesse in der Computervermittelten Kommunikation (2000), de Hubert Gorczytza.

Se, no início, o “vício” de trocar carateres brancos num fundo preto exigia paciência com o lag (tempo entre digitar um comando e a sua resposta), face à velocidade de conexão ao exterior, o busílis na UMinho passou a ser outro. Havia alunos a querer fazer trabalhos no Oracle, por exemplo, mas fãs do MOO lotavam os computadores dos laboratórios, que era o único sítio em que aqueles podiam aceder à net. A solução foi priorizar o acesso a quem fazia trabalhos. Entretanto, o servidor do MOOsaico no DI passou a ocupar muitos recursos informáticos. A opção foi limitar até 200 personagens ligadas em simultâneo e não poder haver novas personagens. Por questões de segurança, o Centro de Informática da UMinho também fechou na altura o acesso externo dos laboratórios aos alunos, exceto pela web, o que fez “desaparecer” personagens e acessos via UMinho. Vários alunos reagiram com a distribuição de flyers no campus, boletins informativos e um novo site.

Foram anos negros, recorda Biafra, mas o núcleo duro foi-se mantendo, os jantares anuais dos mooers sucediam-se em locais como Braga, Porto, Guimarães, Lisboa ou Bairrada e muitos dos que concluíram o curso superior continuaram ativos online. A evolução informática permitiu ter uma máquina no DI dedicada a esta comunidade virtual, o volume de personagens cresceu e, nos laboratórios de informática, os novos alunos (muitos deles nascidos após o MOOsaico) foram sensibilizados a aderir àquela rede, que em 2006 ganhou som, como portas a fechar, animais e tiros na roleta.

“O MOOsaico tem hoje ainda mais sentido, as suas salas podem servir para debater temas e todos os que querem participar entram e falam livremente, sem a filtragem das redes sociais atuais”, nota Sérgio Peixoto, que frequentou Matemática e Ciências da Computação em 1994/95 e reinscreveu-se este ano letivo. “Faz todo o sentido a comunidade académica usar este espaço, as pessoas verificam as salas que interessam, ingressam nelas e fazem brainstorming”, realça. “O mais importante não é o que constróis, mas que o fazes com orgulho para um mundo em que todos possam explorar e aprender”, frisa o lema desta rede virtual. Para quem tem dúvidas em entrar ou esqueceu-se da senha, basta enviar um email. Pode ainda escrever Help ou aceder como convidado/a (guest) e receber dicas: Who para ver quem está ligado, Look para olhar em volta, Ways para usar os pontos cardeais, i para saber o que carrega…”

Fonte: NÓS

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