O projeto para a conservação e reabilitação da Estação Central da Beira, em Moçambique, foi premiado com 160 mil euros pela Fundação Getty, em Los Angeles, EUA. A intervenção é considerada urgente após o recente ciclone tropical Idai e quer adicionar novas funções ao complexo. Este é um dos dez edifícios marcantes do século XX que são agora apoiados pela Getty, num total de 1.4 milhões de euros e no âmbito da sua iniciativa “Keeping It Modern”, que em cinco anos já contribuiu para planear e investigar a conservação de 64 edifícios modernistas em todo o mundo.
A equipa da UMinho é liderada neste projeto de reabilitação por Paulo Lourenço, no Instituto de Sustentabilidade e Inovação em Engenharia de Estruturas (ISISE), e por Elisiário Miranda, no Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT), ambos em Guimarães. Conta com a parceria de arquitetos e engenheiros da Portos e Caminhos-de-ferro de Moçambique e da Universidade Eduardo Mondlane. O grupo vai assim propor um plano de conservação e usos alternativos para o espaço. Vai também compilar desenhos históricos, fotos, histórias orais e mapear danos estruturais. Parte desse percurso já foi traçado em estudos anteriores da UMinho.
No final, o dossiê ajudará os decisores a melhorar as utilizações atuais e aliar novas funcionalidades, seguindo as práticas mais recentes da conservação, diz Paulo Lourenço, que é também professor catedrático da Escola de Engenharia da UMinho. O trabalho pretende ser partilhado com a África lusófona, elevando o nível e as práticas de conservação do património arquitetónico moderno, bem como o conhecimento das ferramentas de última geração neste âmbito.
A chamada “reutilização adaptativa” dos edifícios e os desafios de manutenção e conservação são transversais às propostas dos outros edifícios modernistas a serem financiadas pela Fundação Getty. Em concreto, foram também escolhidos o Monumento Buzludzha (Bulgária), o Palácio de Exposições de Turim (Itália), a Villa E-1027 (França), a Igreja Cristã do Norte, a Miller House (ambas em Indiana, EUA), o Museu Nacional do Uganda, o Laboratório de Química da Universidade Tecnológica de Kaunas (Lituânia), a Escola Superior de Comércio Manuel Belgrano (Argentina) e o Paraninfo da Universidade Laboral de Cheste (Espanha).
Término do sistema ferroviário que liga o porto da Beira ao interior africano e ex-libris da cidade, a Estação Central da Beira, da autoria dos arquitetos Francisco José de Castro, João Garizo do Carmo e Paulo de Melo Sampaio, foi inaugurada a 1 de outubro de 1966. Com uma linguagem ortodoxamente filiada na arquitetura do Movimento Moderno internacional do segundo pós-guerra (pilotis, quebra-luzes, arcos e abóbadas parabólicas e catalãs, grelhagens de ventilação, murais cerâmicos, entre outros), compõe-se de três corpos distintos articulados entre si: átrio, bloco da administração e zona do cais. As patologias construtivas e funcionais que apresenta, após mais de 50 anos de utilização, foram agravadas pela passagem do furacão Idai, nomeadamente pela destruição de caixilharias e quebra-luzes da fachada sudoeste.