A Escola de Engenharia da UMinho está a trabalhar no projeto de modelo de inteligência artificial híbrida de Singapura e está a desenvolver o projeto para a Capital Verde Europeia.
Ficou a saber-se, no II Encontro Internacional de Educação Ambiental, realizado, no passado dia 27 fevereiro, no Laboratório da Paisagem, em Guimarães, que o galardão de Capital Verde Europeia 2026 veio acelerar o projeto de desenvolvimento de um gémeo digital. Francisco Chinesta, diretor do programa Descartes, o modelo de inteligência artificial híbrida, construído para a cidade-Estado de Singapura, veio explicar porque razão estes gémeos digitais devem combinar a “big data” com a “velha ciência”.
Numa altura em que Guimarães, em colaboração com a U. Minho, acelera o desenvolvimento de um gémeo digital, para que possa estar em funcionamento em 2026, quando a cidade for Capital Verde Europeia, Francisco Chinesta partilhou algum do conhecimento acumulado num dos modelos mais desenvolvidos do Mundo – o Descartes, em Singapura. Para o investigador e diretor do projeto da cidade-Estado asiática, se não é possível confiar nos modelos da ciência como a fizemos até aqui, “porque os fenómenos são muito complexos”, também não podemos recorrer, em absoluto, à inteligência artificial (IA).
Os gémeos digitais são representações virtuais de sistemas físicos, neste caso uma cidade ou parte dela. Estes modelos permitem simular o desenvolvimento e a propagação de fenómenos com o fogo ou as cheias e testar comportamentos, decorrentes, por exemplo, de alterações de trânsito. Nos Jogos Olímpicos de Paris, um sistema assente nesta tecnologia foi usado para disponibilizar aos utilizadores o caminho mais rápido de um ponto a outro, mas simultaneamente o mais fresco e o que apresentasse melhor qualidade do ar. Em Marselha, a tecnologia está a ser utilizada para informar os bombeiros sobre a propagação do fogo, com base na análise das correntes de ar. “Desta forma, com base no atraso previsto da chegada dos meios, é possível saber exatamente para onde devem ser enviados”, explicou Francisco Chinesta.
“Para medir o que se passa numa cidade como Guimarães, na totalidade, seriam precisos milhares de sensores”, referiu. O investigador alertou também a enorme quantidade de energia necessária para operar os sistemas de IA, “o que os torna pouco sustentáveis”. Foi por estas razões que, em Singapura, optaram por um sistema híbrido.”Usamos a física para aquilo que conhecemos e simulamos, com recurso a IA, aquilo que ignoramos”. Desta forma, Francisco Chinesta diz que é possível ter um modelo para uma cidade como Guimarães, “com algumas dezenas de sensores”.
Em Singapura, o programa Descartes – desenvolvido pela subsidiária local do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), o maior centro de pesquisa francês – é um programa interdisciplinar que envolve matemáticos e especialista em ciências da computação e engenheiros, mas também antropólogos e outros investigadores das ciências humanas. “Uma cidade não é só tecnologia. Não quero estar a olhar para uma catedral ou para um centro histórico e, de repente, começam a passar drones no ar”, ilustra, referindo-se à especificidade de uma cidade com um casco velho, como Guimarães. “Além disso, numa cidade como Singapura, diz-se às pessoas para fazerem uma coisa e elas cumprem, em França, diz-se às pessoas para fazerem algo e elas vão procurar fazer o contrário”, ironizou, para sublinhar que “a tecnologia é feita para as pessoas e não há regras universais”.
A UMinho tem especialistas de programação nesta área e tem estado envolvida no Descartes, com uma equipa liderada pelo professor Miguel Nóbrega da EEUM, levando para o programa os conhecimentos que a Escola de Engenharia tem na área de Openfoam, uma linguagem de programação muito utilizada na construção destes modelos. São estes especialistas que estão a desenvolver um modelo digital de Guimarães, que esperam ter a funcionar, em 2026. O investigador português esclareceu que se trata de um modelo que, depois de criado, funcionará em tempo real e permitirá apoiar a planificação, operação, diagnóstico, prognóstico e a tomada de decisão na cidade.
Modelo digital de Guimarães deverá funcionar em 2026
FONTE: Jornal de Notícias