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Medicamento português para artrite reumatoide passa no primeiro ensaio em humanos

Equipa da EEUM espera reduzir atual injeção de semanal para mensal e com menos efeitos secundários para os pacientes.

A Escola de Engenharia da UMinho – através do Centro de Engenharia Biológica (CEB) e da spin-off Solfarcos –, com apoio das empresas BlueClinical e Bluepharma, terminou com sucesso o primeiro ensaio clínico em humanos de um novo medicamento para a artrite reumatoide. O segredo está na libertação controlada da substância ativa nas articulações inflamadas. Isso pode permitir que a atual terapia de uma injeção semanal passe a mensal e com menos efeitos secundários. Vai agora testar-se uma prova de conceito em doentes, que se espera também positiva, e procurar-se investidores para outros ensaios exigidos até à autorização da comercialização desta tecnologia 100% portuguesa.

A inovação resulta da investigação iniciada há mais de dez anos pela equipa de Artur Cavaco-Paulo no CEB, em Braga, que já gerou duas patentes e duas teses de doutoramento ao abrigo dos projetos Nanofol e Folsmart, financiados pelos programas europeus FP7 e Horizonte 2020 e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A Solfarcos promoveu em setembro o primeiro ensaio clínico em termos de segurança e tolerabilidade, com voluntários saudáveis. Contou com a BlueClinical para obter o respetivo aval junto do Infarmed e da Comissão de Ética para a Investigação Clínica e para conduzir o ensaio nas suas instalações de fase 1. Contou ainda com a Bluepharma para o fabrico, a caraterização e o controlo de qualidade do medicamento proposto. Os dois parceiros vão manter-se na fase 2.

Na prática, o novo medicamento baseia-se na molécula de metotrexato, o fármaco de referência no tratamento de várias doenças autoimunes. Os investigadores da UMinho encapsularam o metotrexato num lipossoma (nanopartícula de gordura), que tem uma molécula sinalizadora à sua superfície para direcionar a libertação da substância ativa nos locais de inflamação, ou seja, as articulações afetadas pela artrite reumatoide. “Atua especificamente nas células doentes e as caraterísticas dos lipossomas aumentam o tempo em circulação do metotrexato, exigindo assim uma dose muito mais baixa para se produzir um efeito similar ao do medicamento que está no mercado e, por isso, gerando menos efeitos secundários”, diz Eugénia Nogueira, investigadora corresponsável pela tecnologia e diretora-geral da Solfarcos.

Embora apenas com o ensaio de prova de conceito em doentes com artrite reumatoide possa ser afirmado, os cientistas preveem que o metotrexato lipossomal permita um maior espaçamento entre doses, passando de uma injeção por semana na posologia atual para uma a cada duas ou quatro semanas. A equipa da EEUMinho acredita que a sua inovação “pode ter um grande impacto” nas diretrizes de tratamento da doença. “A nossa ambição é que seja a opção de primeira linha na artrite reumatoide, porque aumenta o tempo de uso do metotrexato, que sabemos ser tão eficaz, mas apenas num período limitado devido aos efeitos adversos que se tornam intoleráveis em doentes crónicos”, acrescenta Artur Cavaco-Paulo, que é também diretor científico da Solfarcos e professor da Escola de Engenharia da UMinho.

A Solfarcos – Soluções Farmacêuticas e Cosméticas, Lda. é uma spin-off (jovem empresa) da UMinho, criada em 2016 junto ao campus de Gualtar, em Braga. Desenvolve soluções baseadas em péptidos e outros biocomponentes para incorporar em produtos farmacêuticos e cosméticos. O CEB é um dos centros de I&D mais dinâmicos do país e classificado como Excelente pela tutela. Tem 400 cientistas de 20 países, 15 start-ups associadas, dezenas de projetos em curso e obtém cerca de três milhões de euros de financiamento por ano. Combina as ciências fundamentais e as engenharias para criar valor nos setores alimentar, químico, biotecnológico, da saúde e ambiental.